Abril, Mês de Prevenção dos Maus Tratos de Crianças e Jovens
By Sara Carvalhal - abril 02, 2019
Abril, Mês de Prevenção dos Maus Tratos de Crianças e Jovens |
Imagine que esta casa, ainda em construção, é sujeita a uma enorme tempestade e que a família que a constrói tem de se abrigar nela. Parece-lhe uma alternativa viável? Terá já telhado que suporte a tempestade? Como poderão fazer sem janelas ou portas para proteger do vento e da chuva? O chão está preparado para ali estarem confortáveis? Será que não se vão magoar por estarem ali antes do tempo?
De uma forma um pouco simplista, é de uma tempestade que se pede às crianças que se abriguem quando assistem ou são vítimas de situações de violência, seja a violência de que natureza for.
Quando as crianças assistem a grandes discussões ou fazem parte delas, quando as crianças assistem a agressões ou são agredidas, como em todas as outras situações, procuram dar-lhes um sentido, sendo que não possuem meios para elaborar e incorporar zangas, raivas ou qualquer forma de agressividade desta dimensão.
A estrutura emocional das crianças está ainda em construção. Primeiro desenvolve-se através do toque, dos movimentos e dos sons, do brincar, dos desenhos e só então surgem as palavras. O pensamento e as emoções funcionam como uma rede que se adensa ao longo do tempo e da experiência de relação com os outros: quanto mais densa, mais forte. A construção desta rede, da estrutura emocional das crianças, necessita do apoio e co-construção dos pais e de todas as pessoas significativas da sua vida, não estando preparada para elaborar tempestades. As tempestades rompem a rede, aumentam as falhas que ela ainda vai apresentando naturalmente e podem comprometer o seu desenvolvimento saudável.
Somos mais parecidos do que diferentes, mas muito embora cada pessoa atribua um valor e significado diferente a cada situação, as situações de violência, em especial a de adultos próximos, como a dos pais sobre os filhos, introduzem a ideia errada de que cuidar e gostar também é aquela agressão. Mistura-se o bom com o mau. As crianças que se encontram num movimento saudável de expansão viram sobre si, sem saber se podem confiar, privam-se dos outros em nome de uma protecção da agressão, mas que mantendo-se, de futuro, os priva de crescer e de crescer com os outros.
Prevenir parece ser a melhor estratégia, parece uma ideia unânime. Eu iria mais longe e diria que permitir que todos tenham possibilidade de cuidar da sua saúde mental, das pequenas e grandes tempestades que vivem dentro de cada um é um direito de que ninguém deveria estar privado.
Imagem de Bansky.
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