Dizer "Não" em três passos 2.0 ou Versão Mãe.

By Sara Carvalhal - maio 08, 2019

Dizer "Não" em três passos 2.0 ou Versão Mãe.
O Dia da Mãe faz lembrar um bocadinho a Passagem de Ano: festejamos o dia, há um miminho dos filhos, repensamos esta grande aventura de ser mãe e mesmo sem promessas - quiçá ainda restam amêndoas da Páscoa para substituir as passas - desejamos e prometemos fazer melhor.

Depois vem a segunda-feira e a realidade. A vida, sem dó nem piedade, atropela as mães: a logística das manhãs, a correria para o trabalho, o stress do trabalho, assegurar que nada vai faltar para os trabalhos da escola, para as actividades extracurriculares; voltar ao trânsito, apanhar os filhos na escola, procurar saber o que se perdeu e o que é importante saber enquanto pais; a seguir as actividades extracurriculares.

Atenção que o dia ainda não acabou!
Chegados a casa é preciso brincar um bocadinho, fazer os trabalhos de casa, o jantar, os lanches do dia seguinte. Os banhos, as roupas, as mochilas.

O telefone toca. É aquela amiga especial. Parece que o dia foi óptimo para ela. A mãe deste lado do telefone - quase desmaiada, não dá "parte de fraca" - diz que por ali também. A amiga ligou porque quer SÓ pedir ajuda em determinado trabalho - e pode pedir, afinal, é aquela amiga especial. Combinam para o dia a seguir ao almoço. Afinal está tudo óptimo, o dia ATÉ foi fácil. Até pode ser lá em casa dela, gastam menos dinheiro e é o mínimo que a amiga diz poder fazer: ser ela a deslocar-se à casa da mãe quase desmaiada e que a vai ajudar.

- Achas que pode ser? Não te vai causar nenhum transtorno?
- Claro que não! Claro que podes vir.

Diz-vos alguma coisa?

Como dizer "não" em três passos, versão 2.0 ou, por outras palavras, Versão Mãe?

1º O primeiro passo para poder dizer "não" é controlar a impulsividade e conseguir não responder de imediato, sem pensar. Vale contar até dez mentalmente antes de falar.

2º Durante os dez segundos que ganhou entre a pergunta e a resposta, seja sensata: é possível? Que custo terá para si acrescentar trabalho durante a semana - vale o mesmo para o fim-de-semana - aos seus dias tão preenchidos? Fazendo este trabalho, que momentos de pausa lhe restam?

3º Respirar fundo e articular de forma clara "Não!". "Não", não significa que não ajude ou que não o faça. Este "não" é um limite que coloca a si mesma para se proteger e não se sobrecarregar de mais tarefas. Não faz naquele momento, antes de ter possibilidade ou não é mesmo possível. Vão continuar amigas na mesma.

Sejamos honestos, vivemos numa sociedade onde ainda é difícil por vezes dizer o que se pensa e, sobretudo, discordar. Em casa, no trabalho, no tempo livre, com a família, com os amigos ou colegas, as pessoas e, neste caso em particular, as mães comportam-se por vezes como se fossem super heroínas. Para elas parece que não pode haver descanso, parece que nunca podem dizer que não e tudo tem de estar o mais próximo possível da perfeição.

O que acontece a seguir?

Quando qualquer pessoa diz "sim" quando quer dizer "não", guarda dentro de si uma pequena zanga por não ter sido consonante com os seus desejos. Com o cansaço a acumular, não é preciso muito para acordar um dragão adormecido dentro de cada um - e das mães também. O dragão bate com a cauda no chão como se se tratasse de um chicote em tom de aviso. Depois parte para a situação que o acordou cheio de força.

Não seria melhor para todos se pudéssemos dizer mais vezes "não"? 
Não ganhariam mais os nossos filhotes se colocássemos mais limites no trabalho, nas tarefas e adoptássemos limites mais realistas? Será possível as mães cuidarem dos filhos sem cuidarem bem delas?

Não temos de sair porta fora a zangarmo-nos com os outros ou a dizer "não" a todos, mas importa pensar no modo como o fazemos... Ou não.





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