Sobre os videojogos

By Sara Carvalhal - maio 01, 2019


Sobre os videojogos


A diversidade de jogos que existe e o empenho das equipas para os construir é tamanha que não há como negar: grande parte das pessoas já jogou ou joga um videojogo porque são divertidos. 

Não é sobre o lado divertido que vos escrevo hoje, mas sobre qual é afinal o problema dos videojogos? 

As crianças estão agarradas aos telemóveis porque razão? Que limites foram definidos? Quem poderia brincar com elas? Por que razão uma criança poderá não querer brincar?

E os adolescentes e adultos que não largam consolas horas a fio? E as pessoas que deixam de dormir para jogar? As que não saem de casa?

Que amigos têm estes adolescentes e adultos? Como será para eles estar com outras pessoas? Sair de casa? Ir trabalhar? Como se imaginam vistos pelos outros?

E as famílias que jantam com olhos postos no telemóvel a jogar?

As perguntas não teriam fim.

Os videojogos servem o grande propósito de divertir as pessoas. Possibilitam que joguem com amigos, mas com a família também.

Quando alguém joga, não cumpre só o objectivo que determinada pessoa criou para aquele jogo. Muitas vezes, tem a possibilidade de fazer parte de uma comunidade que joga, fazer parte de equipas e relacionar-se com pessoas como talvez não o fizessem no dia-a-dia. Nos jogos é possível experimentar uma identidade simplesmente diferente daquela que as pessoas percepcionam em si mesmas ou mais parecida com a que imaginavam idealmente - muito para além das dificuldades que sentem todos os dias. Nos videojogos podem estar com os outros não estando, podem não revelar dificuldades que se tornam muito evidentes nos contextos onde se movimentam e dão lugar a uma parte de si difícil de partilhar com os outros.

É fundamental a supervisão dos pais, como é fundamental o estabelecimento de regras, nesta ou em qualquer outra actividade dos filhos. O estabelecimento de limites seja qual for a idade.

A razão pela qual as pessoas se refugiam nos videojogos, aquilo que as impede de fazer algo, de conviver com os outros, de sair de casa, de se sentirem tranquilas com elas mesmas, isso sim, é uma verdadeira preocupação.

O problema está na impossibilidade de pensar e elaborar determinada fragilidade, em gritarmos para dentro as dificuldades em vez de, com ajuda, as colocarmos em ideias e palavras criando novas soluções; na impossibilidade de nos relacionarmos com uma parte de nós de outra forma ou de nos relacionarmos com os outros de forma satisfatória.

O problema está em zangarmo-nos com os videojogos, mas não procurarmos ajuda especializada, não fazermos um acompanhamento psicológico, psicoterapia. Ignorar estas questões isso sim, é hipotecar o futuro: as dificuldades multiplicam-se e ai sim, o tempo de jogo ganha outra dimensão.

Os videojogos hoje em dia estão acessíveis, de alguma forma, a todos. Ao entrarem na grande maioria das casas, entram numa dimensão de proximidade com as pessoas em que as nossas melhores qualidades e as nossas maiores fragilidades ficam a nu. 

O acompanhamento psicológico e a saúde mental ainda não estão acessíveis a todos e isso sim, é a mais dramática questão a colocar e sobre a qual devemos reflectir.

Jogamos pelo lado mais fácil e culpamos os videojogos ou olhamos para dentro de nós?


Imagem: https://www.instagram.com/gevan.artwork/


Se gostaste deste texto partilha-o no Pinterest:


  • Share:

You Might Also Like

0 comentários