Tudo o que não devia escrever

By Sara Carvalhal - janeiro 26, 2020

Tudo o que não devia escrever

Começo este texto e dou por mim num sorriso.

Decido escrever sobre como há dias e momentos em que parece que nada é suficiente e dou por mim a não gostar de nenhuma das frases com que começo a escrever.

Reparo que com esta introdução, conto desde já sobre o que é o meu texto e qualquer texto que se preze não se revela, vai-se mostrando. 

E não faz mal. 
Escrevi tudo o que não devia escrever.

Queria escrever-te sobre a Exigência. Aquela com que vais trabalhar, aquela com que te olhas e passa o fim-de-semana contigo. Aquela exigência que te diz para não saires a horas, para ficares só mais um bocadinho; aquela que te diz que tens de fazer melhor e que ainda não chegou o que tens ou fizeste para fechar a tarefa. A exigência que te deixa triste ao Domingo, como se tudo o que fizeste durante o fim-de-semana não tivesse sido suficiente para concluires que foi bom ou para considerares teres o que partilhar com os outros.

Que cansaço só imaginar.
Dá trabalho ser exigente.

Parece-me que a exigência passa por estes dias por momentos de crise. A exigência tem uma identidade própria, mas tem sido confundida com brio, com profissionalismo, com disciplina.

Sair a horas, fazer o melhor possível com as condições/tempo que temos ou fazer o que nos apetece ao fim-de-semana não é sinónimo de ausência de exigência no que fazemos. É indicador do modo como nos tratamos e da dureza/gentileza do nosso olhar.

Quando se olha para um dia, olhamos sob o olhar da nossa expectativa e do modo ideal como o imaginamos. Olhamo-lo como olhamos para nós. 

E não tem mal.

E não tem mal olhar esperando o melhor, esperando muito porque só desejando muito, alcançamos grandes objectivos. O que nos causa sofrimento, é olhar imaginando que tem de ser próximo de um ideal que não existe, colocando-nos uma fasquia impossível de alcançar. 

Os dias não são um reflexo do nosso desejo, mas o resultado dos nossos desejos no encontro com os desejos dos outros e com as circunstâncias que a vida nos propõe. Mesmo quando esperamos mais daquele dia, de nós e de quem está connosco, devemos ter a bondade de dar tempo às coisas para acontecerem, a nós para conseguirmos e aos outros para se conseguirem organizar. Aceitar que não são iguais a nós, que procuram outra coisa ou de outra forma e que demoram o seu tempo, é estar no sítio certo e saber qual o verdadeiro foco.

E como este texto passa sobretudo por quebrar regras, escrevendo tudo aquilo que não devia escrever, partilho o meu desejo: que este texto te tenha ajudado a pensar os dias, sejam eles como forem e que esta semana seja ainda melhor que a semana que já passou. 







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